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SOBRADOS DE SÃO PAULO

Não é de hoje que a fotografia tem especial atração pelas cidades, pelo que acontece nas ruas, pelas casas e sua arquitetura, enfim, pela paisagem construída pelo homem. Na verdade, isto ocorre desde o seu nascimento pelas mãos de Joseph Nicéphore Nièpce. Naquele ano de 1817, Nièpce, munido de seu aparato fotográfico que acabara de construir e ciente de que estava prestes a fazer a primeira fotografia da história, não teve dúvidas: correu para a janela de seu escritório e, “click”, registrou os edifícios que dali podia avistar. 

Daí em diante, este apego, verdadeiro “amor à primeira vista” se eternizou. Há uma lista enorme de fotógrafos que ao longo dos séculos XIX e XX observam as cidades na tentativa de entendê-las e interpretá-las, por mais complexas, contraditórias, desafiadoras que sejam. De início foi Eugéne Atget que percorria as ruas de Paris com suas câmeras pesadíssimas registrando as grandes transformações urbanas da cidade. Em seguida, tivemos a sorte de ter caído nas mãos de André Kertész uma câmera levíssima de pequeno formato que lhe permitiu caminhar pelas ruas, inicialmente, em sua Hungria natal e depois em Paris e Nova York, consolidando o que hoje chamamos de fotografia urbana. Isto é, a vida vista do ponto de vista da calçada. Outros vieram: Henri Cartier-Bresson, Robert Frank, Sérgio Larraín, Elliot Erwitt, Bruce Davidson, todos atraídos pelo desafio de tentar entender o drama das cidades.

Portanto, nada mais natural que, neste século XXI, a cidade ainda continue seduzindo, com seus múltiplos desafios, inúmeros fotógrafos. É o caso de Fernando Martinho que nestes últimos anos vem fotografando os sobrados de São Paulo. Nestes, da zona oeste, que revela um trabalho de observação minucioso do fotógrafo, notamos uma ponta de nostalgia e de sensação de perda diante da ameaça dos edifícios que marcham inapelavelmente pela retaguarda em direção aos sobrados. Ao fotografa-los com uma câmera digital através do filtro do visor de uma Rolleiflex contemporânea daquelas construções, Martinho nos remete ao tempo em que elas foram construídas em uma viagem somente possível pela leitura que se faz dessas imagens. Contrapondo o recurso contemporâneo da tecnologia digital, com o qual ele, de fato, faz a foto, à imagem quase imprecisa que observamos através da velha Rolleiflex, vemos cada sobrado em dois tempos simultaneamente. Nos dias de ontem e nos de hoje.

Seja qual for o destino desses sobrados, aí estão eles perpetuados pelo trabalho diligente do fotógrafo. Fernando Martinho, em uma época de grandes transformações tecnológicas e conceituais, reafirma, de forma incisiva, ao mesmo tempo sensível e engajada, a importância da fotografia documental.  A cidade fotografada é um testemunho eloquente das ações humanas e das transformações das cidades.

 

Cristiano Mascaro   SP 24/09/2012

© fernando martinho

© fernando martinho

LIVRO "SOBRADOS DA ZONA OESTE"

PRESS / IMPRENSA

Jornal O Estado de São Paulo - Jan 2013

Site Estadão - Jan 2013

TV Gazeta Jornal da Gazeta - Jan 2013

TEXT / TEXTOS

Em certos casos, a identidade de uma câmera fotográfica faz parte da obra. Neste sentido, o fotógrafo Fernando Martinho transformou o traço técnico em poesia. Em Sobrados da Zona Oeste, Martinho fotografa "velhas" casas da capital paulista através da mítica câmera Rolleiflex.

 

Com habilidade, Martinho soube explorar o clima do vidro despolido da Rollei - em fotografias captadas por uma câmera digital - e os sobrados assim se revelam por meio de uma imagem "suja". Sem muita nitidez, os casarios remetem a um passado duplo: da analogia da câmera à arquitetura de outrora.

 

Sobrados da Zona Oeste é um documentário fotográfico que nos leva para outras épocas. O resultado final do ensaio de Fernando Martinho serve para denunciar uma paisagem urbana que tem os dias contados e será, num futuro breve, parte da nossa memória.

 

Alexandre Belém

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